Entrevista


A artista brasiliense Luciana Paiva, graduada em Artes Plásticas e mestre em Poéticas contemporâneas, participa regularmente de exposições em Brasília e em outros estados desde 2004. Luciana trabalha com diversas linguagens artísticas e apresenta interesse pelo livro, como suporte e como objeto que relaciona escrita e imagem. A partir de seu trabalho e sua estrita relação com o objeto de estudo deste livro virtual, foi proposta uma forma virtual de entrevista na qual trocaram-se perguntas, respostas e outras informações por meio de mensagens eletrônicas. Durante as trocas que se sucederam, Luciana Paiva falou sobre sua formação artística, processos de criação e seus interesses no campo das artes e outras áreas do conhecimento.



Como foi sua formação artística?

Meu contato mais aprofundado com a arte foi já na universidade, sou formada em artes plásticas e possuo mestrado em artes pela UnB. Atualmente realizo o Programa Aprofundamento da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Entretanto, dentro ou fora da academia, acho mais importante citar algumas das pessoas que contribuíram pra minha formação, dentre elas estão os amigos Matias Monteiro, João Angelini, Átila Regiani, Fernanda Mendonça, Allan de Lana e Juliano Moraes e os professores Gê Orthof, Marília Panitz, Miguel Simão, Vicente Martinez e Elder Rocha, entre outros.
"Não Alimente o Livrinho" - Luciana Paiva

Como surgiu o interesse pelo livro?

O interesse pelo livro surgiu por meio do interesse pela literatura e pela escrita, durante os primeiros trabalhos que realizei a relação entre escrita e desenho era bastante presente, embora literal. Aos poucos fui me interessando por alguns aspectos específicos relacionados à escrita, como a utilização do livro como suporte, a estrutura da linguagem e a relação visual entre palavra e imagem vinculada aos primeiros experimentos visuais da poesia.

Quem ou quê coisas podem ser citadas como referências para sua produção?

"Biblioteca de bolso" - Luciana Paiva e artistas convidados
Além dos amigos próximos que são minha maior referência pra qualquer coisa, posso citar alguns artistas que me influenciam não apenas por lidarem com elementos que me interessam, mas também pela forma de apresentação ou montagem de suas obras: Mira Schendel, Jorge Macchi, Liliana Porter, Richard Tuttle e Francis Alys. Também me interesso pelo espírito utópico das vanguardas russas, em especial pela obra e escritos de Kasimir Malevich. A literatura sempre esteve presente de forma dispersa, mas constante, em relação direta a minha pesquisa posso citar como influencia o poema Um lance de Dados Jamais Abolirá o Acaso de Sthephane Mallarmé, os caligramas de Guillaume Apollinaire e a poesia de Francis Ponge. Recentemente o pensamento de Vilem Flusser sobre a escrita e a linguagem também me ajudaram bastante a pensar sobre questões que me interessam. E para o futuro pretendo estudar os ideogramas chineses.

Em geral, como se dá o seu processo de criação?

Difícil responder essa pergunta em relação a todos os trabalhos, pois como não lido com um suporte ou categoria específica, acaba que cada trabalho tem suas próprias regras. Talvez seja exatamente esse o processo, criar algumas regras dentro de situações específicas. Por exemplo, os trabalhos Quando criança eu fugi (2007) e All (2009) tem processos parecidos, ambos surgiram porque eu lidava com os materiais utilizados (palavras cruzadas e embalagem de chocolate alpino) com certa freqüência. Comecei a guardar esse material e a partir disso pensar em uma composição para eles. Mas muitas vezes o trabalho surge como um título apenas e me imponho a tarefa de pensar em uma solução para este título. De modo geral é isso que acontece, existe uma idéia, um objeto, algo que me captura por mais banal que seja e tenho que encontrar uma espécie de lugar ou organização pra isso.  Uma vez vi um vídeo do Richard Tuttle onde ele resume bem essa sensação, ele encontra um aglomerado de coisas na rua (desses que a gente encontra todo dia, no lixo, mas às vezes não tinha reparado) e então ele se pergunta: “Porque isso não é nada?”

É possível apontar um ou dois dos seus trabalhos que sejam mais representativos na sua carreira?

Bem, sei dizer os que são representativos pra mim... Tenho um xodó que é o “Não alimente o livrinho” (2005) e o “Passagem Secreta”, selecionado para o programa Rumos 2011/12, está rendendo boas conversas e me fazendo repensar bastante a forma que lido com minha produção.

Você considera a sua vivência em Brasília como um fator de influência no seu trabalho?

"Passagem Secreta" - Luciana Paiva
Claro, mas esse tipo de influencia não pode ser mensurada com exatidão, não mais do que qualquer cidade influencia qualquer pesquisa. Meu trabalho não está diretamente relacionado à cidade, entretanto, podem-se estabelecer algumas questões comumente relacionadas ao contexto da cidade, como a recorrência de espaços vazios ou mesmo a utilização de módulos, que se aplicam ao meu repertório também. Mas eu poderia fazer o contrário disso e dizer que também o faço porque sou de Brasília, percebe? Não estou certa sobre essas vinculações, pois não dá pra saber como seria se eu tivesse nascido em outro lugar.